segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Tudo azu

CRUZEIRO X ATLÉTICO »Cruzeiro aplica a maior goleada celeste nos confrontos com o Atlético, escapa da queda e tira a chance de o arquirrival disputar a Sul-Americana


Jogadores comemoraram demais o resultado salvador depois de uma campanha ruim (Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Jogadores comemoraram demais o resultado salvador depois de uma campanha ruim
No dia 28 de agosto, quando terminou o jogo Cruzeiro 2, Atlético 1, gols de Montillo, contra um de Fillipe Soutto, encerramento do turno do Campeonato Brasileiro, um torcedor celeste decidiu dormir. Pediu um sono profundo, tranquilo e sem pesadelos. Como repouso dos reis. Que durasse três meses e sete dias para acordar justamente ontem à tarde, quando o time estivesse entrando em campo, novamente na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas, para o término da competição, diante do arquirrival. Imaginava o título. Não veio, mas acordou na glória: Cruzeiro 6 a 1. A maior goleada celeste na história dos clássicos.

Mas este torcedor, mesmo dormindo, às vezes com os olhos abertos, mas a mente descansando, não queria acreditar em alguns pesadelos nos 18 jogos do returno, como logo na rodada seguinte. Sem jogadores importantes, como o goleiro Fábio e o armador Montillo, ambos suspensos, o time perdeu por 4 a 2 para o Figueirense. 

A diretoria decidiu trocar o técnico Joel Santana pelo coordenador técnico, Emerson Ávila. Mais sofrimento, porque foram seis jogos sem vencer. A solução foi buscar Vágner Mancini. A Raposa não engrenou e o torcedor teve razões para acordar. Não queria tantos pesadelos, principalmente depois da goleada sofrida por 5 a 1, diante do Flamengo, no Rio, mas insistiu em permanecer em seu leito. O pior ainda estava por vir: três jogos, três empates (Avaí, 0 a 0; Atlético-PR, 1 a 1 e Ceará, 2 a 2), com a ameaça do rebaixamento, porque tinha apenas um ponto de vantagem sobre o Ceará, 17º colocado, e decidiria a sorte contra o arquirrival.

Quando os cruzeirenses seguiam no começo da tarde de ontem para Sete Lagoas, ainda sonolentos, o torcedor fez a sua mente trabalhar. A história recente dos duelos lhe deu coragem. Já foi falando: “Mas o adversário é o Galo. Nosso maior freguês dos últimos quatro anos. Não há perigo. Vamos ganhar. Não vai ter rebaixamento”. Nos últimos 22 jogos, foram 17 vitórias. Nem mesmo a ausência de Montillo, Fábio e Marquinhos Paraná, suspensos, o perturbou.

 Acordou na hora certa: o Cruzeiro ressuscitou seu futebol, fez seu melhor jogo no Brasileiro, com determinação e aplicação, mostrando que aproveitou os treinamentos em Atibaia-SP e a torcida está em festa. Eufórico, o torcedor mandou uma mensagem pelo Twitter para os amigos no estádio: “Coloquem aí uma faixa. Incaível”. No intervalo, ela foi posta para orgulho de toda a gente cruzeirense, que cantava um samba de Beth Carvalho, muito frequente entre a torcida do Atlético: “Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão. Chora, não vou ligar”.

 IRRETOCÁVEL


A atuação foi de cinema. Uma fita tão linda que os torcedores não queriam que ela tivesse fim. O Atlético apático, nem parecia o invicto há 10 jogos na Arena do Jacaré. Foi encurralado. Levou um chocolate histórico que seus fãs vão custar a esquecer, mesmo diante das teorias mirabolantes de conspiração ao longo da semana, de que ele poderia facilitar para o adversário. Mas perdeu na bola.

O torcedor cruzeirense está fazendo festa, mas há uma parcela revoltada. Entende que, pela sua grandeza, o Cruzeiro não precisava passar por tanta humilhação. Ou festejar a salvação do rebaixamento. Os gols foram de Roger, Leandro Guerreiro, Anselmo Ramon e Fabrício, no primeiro tempo. Na etapa final Wellington Paulista ampliou, Réver descontou, e Éverton completou a goleada.